Há mais de um ano escrevi aqui no AutoPapo sobre o aniversário de 10 anos do limite de isenção de ICMS, frisando o absurdo que era um valor congelado há uma década, e o quanto isso era prejudicial às pessoas com deficiência.
Ressaltei o quanto é importante para este público ter carros mais seguros, com itens que parecem luxo aos olhos de alguns, mas são essenciais a grande parte deste público para facilitar o dia a dia, e até mesmo ajudar a tornar a direção mais segura. Recebi vários comentários positivos e parabenizando o texto.
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Na época, estávamos a poucas semanas de ocorrer uma reunião do Confaz em que o limite poderia ser revisto. Mas, infelizmente, o reajuste não ocorreu. Passado mais de um ano, o que mudou?
Apesar de os preços dos automóveis terem sofrido vários reajustes, surgiram novos modelos com motor 1.0 turbo dentro do limite de isenção com bom pacote de segurança e tecnologia. SUVs com seis airbags, controle de estabilidade e tração, mídia com espelhamento, chave presencial e rodas de liga. Será que eu estava errado? Como seria possível oferecer veículos tão completos abaixo do limite?
‘Equação’
A primeira explicação vem da motorização. Acontece que veículos com motor até 999 cm³ tem percentual de IPI menor, de 7%, enquanto motores de 1.0 a 2.0 pagam 13% deste imposto. Assim foi possível ofertar mais equipamentos por um valor menor. Tanto que o valor após isenções também subiu.
Mas será que só isso explica este fenômeno? Vamos analisar os modelos em questão. O primeiro foi o VW T-Cross, cujas vendas não estavam indo tão bem, e a VW lançou o T-Cross Sense com bom pacote de itens de série. Foi sucesso imediato, o que gerou um aumento na demanda pelo modelo, não só pelas pessoas com deficiência, mas que refletiu também nas outras versões.
Em março deste ano foi a vez do Chevrolet Tracker, que já ganhou uma versão PcD no seu lançamento, em lote promocional, idêntica à versão LT, com pacote ainda melhor do que do T-Cross, contando inclusive com chave presencial, mídia com Wi-Fi integrado e piloto automático – itens que não estavam presentes no concorrente.
Para “compensar”, o Tracker PCD foi oferecido com apenas um ano de garantia. E houve um grande frenesi, gerou muita mídia espontânea, e, mais uma vez, isso refletiu nas vendas das outras versões. Será que nesses casos as montadoras estavam pensando somente no público PcD?
De qualquer forma, foi uma senhora oportunidade. Quem conseguiu comprar estes modelos, fez um excelente negócio. No caso do Tracker PcD, quem comprou pegou um SUV completo com 35% de desconto se comparada ao preço da versão LT, que foi de R$ 89 mil no lançamento.
O único ponto negativo apontado por muitos foi ter apenas um ano de garantia, mas as concessionárias ofereceram garantia extra, de mais dois anos, por menos de dois mil reais. Portanto Tracker e T-Cross se tornaram os SUVs queridinhos do público PcD.
E as outras opções, como ficaram? O C4 Cactus, após muita polêmica quando a Citroën tirou vários itens da versão PcD, voltou com elas e também era uma opção bem completa, apesar de contar com apenas dois airbags e ter porta malas muito pequeno.
Os demais, foram perdendo itens ano após ano, para se adequar ao limite. Rodas de liga, faróis de neblina, multimídia, apoio de braço, DRL, sensor de estacionamento, câmera de ré, computador de bordo completo, entre outros itens, foram sumindo de carros muito bons como Hyundai Creta, Nissan Kicks e Renault Duster. E em segurança, só o básico: dois airbags e controle de estabilidade e tração.
Fim dos SUVs PcD completos
Mas a verdade é que os SUVs completos e seguros vão acabar. O primeiro indício é que tanto Tracker quanto T-Cross estão suspensos há um bom tempo. E a Chevrolet ainda reajustou os preços dos seus modelos no início do mês de julho, excluindo do limite de isenção o sedã compacto Onix Plus na versão LT.
Será mesmo que a Chevrolet vai manter a Tracker baseada na versão LT, que custa mais de R$ 95 mil, por menos de R$ 70 mil só para vender para este público? Foi amplamente divulgado que se tratava de um lote promocional.
Durou mais do que o previsto, é verdade, mas não há muita esperança que isso se perpetue se não houver aumento no limite. Sem contar que também estão suspensos o C4 Cactus, outro SUV que vinha com bom pacote de itens de série, e o Duster.
E não são só os SUVs. Dos quase 50 modelos disponíveis para PcD hoje, 31 custam de R$ 68.390 a R$ 69.990. Hatches compactos, sedãs compactos, a grande maioria com dois airbags e nem tantos itens de série assim.
Há muitos modelos previstos para receber novas versões, alguns terão novas gerações, com mais equipamentos de segurança e tecnologia, com motores turbinados e eficientes, e até mesmo híbridos. Muito difícil manterem versões PCD. Se mantiverem, serão defasados e pelados.
Equipamentos podem ser essenciais
Um argumento que muitas pessoas usam para justificar a manutenção do teto em R$ 70 mil é que é melhor comprar um carro básico e ir equipando ao longo do tempo. Coloca roda de liga, bancos em couro, câmera de ré e sensor de estacionamento. Porém, há itens que são impossíveis de serem instalados, ou ficam muito caros.
Alguns exemplos são mais airbags, piloto automático, comandos no volante, freio de mão eletromecânico, sensor crepuscular, monitoramento de pneus, start/stop, ar digital, chave presencial. E muitos destes itens são importantes ou até essências para pessoas com deficiência.
Piloto automático é importante para quem usa adaptação, para descansar o braço em uma viagem. Comandos no volante são questão de segurança para quem está com uma mão ocupada acelerando e freando com uma adaptação.
Deficiências que causam limitações no movimento de pinça das mãos tornam difícil virar a chave no contato ou puxar freio de mão, e, em alguns casos, até mesmo girar os botões do ar-condicionado.
E o mais importante, segurança é fundamental a todos. Principalmente quem tem filhos, mas mesmo quem não os tem, não viaja com os pais, irmãos ou amigos? Quanto mais segurança em um veículo, melhor. E a maioria dos carros PcD que custa abaixo de R$ 70 mil vem somente com dois airbags, e nota ruim no Latin NCAP.
Boris Feldman também comenta sobre os carros PcD “depenados”. Veja o vídeo:
Afinal, porque reajustar?
O argumento mais importante na defesa do aumento do limite é que ele irá ampliar as opções de veículos disponíveis com isenção total para pessoas com deficiência. Mais pessoas com as mais diversas deficiências poderão encontrar seu meio de locomoção mais adequado com isenção total de impostos.
Será possível voltar a comprar sedãs médios com muitos airbags, bom espaço interno, porta malas grande e itens de conforto e conveniência. SUVs compactos com seis airbags, piloto automático, comandos no volante, chave presencial, bancos em couro, câmera de ré e vários sensores.
Sem contar todos os lançamentos que estão previstos para este ano e o próximo. Modelos com mais segurança, eficiência mecânica e tecnologia. Isso sem contar os híbridos, que permitem consumos baixos e bom desempenho.
Motivo da isenção para carro PcD
No fim das contas, as isenções existem para corrigir a distorção causada pela falta de infraestrutura das cidades. Falta de rampas nas esquinas, calçadas cheias de buracos, degraus e obstáculos ao tráfego de cadeiras de rodas, além do transporte público insuficiente demandam que pessoas com deficiências tenham seus próprios carros para chegar com segurança aos seus destinos. E essa falta de estrutura atinge a todos, independentemente de classe social.
O direito às isenções deveria ser amplo; todas as pessoas com deficiência deveriam ter a possibilidade de acesso a carros seguros, e que atendam suas necessidades. E para ser justo, o ideal seria manter as versões mais básicas dos SUVs compactos, que são carros com porta malas generosos que geralmente cabem uma cadeira de rodas montada, para acesso a quem quer comprar um carro básico
E para quem diz que não haverá mais modelos para quem não pode pagar caro, sempre vão ter os carros de entrada, hatches compactos e subcompactos. Mas não existe mundo perfeito, e, na prática, temos pouca ou nenhuma influência sobre as ações de quem decide estes parâmetros. Só nos resta torcer pelo melhor. Para todos.
O post Reajuste do teto de isenção para PcD: será que vale a pena? apareceu primeiro em AutoPapo.
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