Nesses tempos de quarentena, uma coisa começou a chamar a minha atenção: mesmo com o mercado em baixa, por que o preço dos carros novos está subindo na pandemia?
Exemplos de preços
Recentemente, tivemos aumentos mais expressivos de praticamente todas as marcas. O que dizer então dos recém lançados Fiat Strada e Volkswagen Nivus, que chegaram com valores que assustam?
- Fiat Strada Endurance Cabine Plus 1.4 Fire – R$ 63.590
- Fiat Strada Endurance Cabine Dupla 1.4 Fire – R$ 74.990
- Fiat Strada Freedom Cabine Plus 1.3 Firefly – R$ 69.490
- Fiat Strada Freedom Cabine Dupla 1.3 Firefly – R$ 77.990
- Fiat Strada Volcano Cabine Dupla 1.3 Firefly – R$ R$ 79.990
- Volkswagen Nivus Comfortline: R$ 85.890
- Volkswagen Nivus Highline: R$ 98.290
Sim, além da carga altíssima de impostos (leia mais sobre isso no final do post), os valores dos automóveis no Brasil está cada vez mais alto mesmo com a redução do poder aquisitivo da maioria esmagadoras dos clientes.
Com o apoio de um estudo da KBB Brasil, montei esse post e o vídeo tentando explicar o que está acontecendo.
Motivos para o carro novo ter subido de preço
1. Dólar
O dólar ainda é a principal atribuição de responsabilidade sobre o acréscimo de preços de carros 0 km, apontada, principalmente, pela Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.
Houve valorização de cerca de R$ 1,60 na cotação do dólar entre dezembro de 2019 e abril de 2020, o que afeta diretamente os custos de produção, uma vez que nenhum carro é 100% nacional. Vários componentes são importados, como câmbio automático e parte eletrônica.
- 27/12/2019: R$ 4,05
- 27/04/2020: R$ 5,63
- 30/06/2020: R$ 5,47
2. Reestruturação das fábricas
Por causa da pandemia, um custo extra foi gerado para a reestruturação das fábricas, adequando às linhas de produção e outros setores a uma nova realidade de capacidade produtiva, segurança e higiene.
Os funcionários tem novas rotinas, como no transporte, distanciamento físico no posto de trabalho, refeitórios, entre outros pontos.
3. Novo estoque com carros novos
O estoque de carros 2019/2019 e 2019/2020 (ano/modelo) praticamente chegou ao fim, o que abre espaço para a chegada dos veículos 2020/2020 e 2020/2021 – o que sempre acarreta aumento de preços.
Some a esse aumento “natural” de um novo modelo os valores vindos do dólar e da reestruturação das fábricas, temos uma elevação ainda mais alta.
4. Rentabilidade e lucro
A rentabilidade por unidade vendida, em um mercado cujo ganho em escala, é fortemente reduzido pela queda na demanda. Em outras palavras, as montadoras deixam seus carros mais “baratos” na estratégia de vender um volume mais alto de unidades para conseguir lucrar.
Como o volume está baixo, ela se vê obrigada a aumentar o preço unitário do veículo para aumentar a sua margem de lucro.
Dilema do mercado
A partir de todos esses argumentos, e levando em consideração que a pandemia afetou o bolso da imensa maioria dos brasileiros, as montadoras chegaram num dilema sobre suas estratégias durante e após esse momento de Covid-19:
- Investir em carros de entrada e (em tese) mais baratos, mas que têm menor margem de lucro (e que costumam ter menos descontos), para atrair um número maior de consumidores (que estão sem dinheiro);
- Investir em carros mais caros, que têm margem de lucro maior (e que permite mais descontos).
Exemplo da Hyundai
A Hyundai, por exemplo, só lançou a linha 2021 das versões mais em conta do HB20, HB20S (ambos 1.0 aspirado) e do Creta 1.6. Ou seja, vai seguir com a estratégia 1 acima.
O presidente da FCA para a América Latina, Antônio Filosa, deu a entender, numa live para o jornal O Tempo, que a empresa seguirá pelo mesmo caminho da concorrente coreana.
Os velhos conhecidos
É notório que os preços dos carros no Brasil tem outros “vilões”.
- Talvez o principal deles seja a absurda carga de impostos que pagamos no Brasil, algo que acontece há décadas e que o governo federal atual, mesmo prometendo em campanha, infelizmente, ainda não fez e não deverá fazer nada a respeito. E acrescentamos a eles os encargos estaduais, que também não melhoraram nos últimos tempos. Logo, somados, para automóveis, os impostos representam cerca de 42% do preço (nos EUA ele é inferior a 10% nos EUA e 14% na Europa)!
- O governo se “defende” dizendo que um vilão importante é a margem de lucro das montadoras que, no Brasil, conforme apurado pelo o Globo, ficaria na casa de 10% (2% nos EUA e 5% no resto do Mundo).
Falta um projeto
Temos ainda o “custo Brasil”, muito elevado, que engloba os itens acima, mas que daria margem para uma discussão ainda mais longa.
Fato é que, mesmo com o Rota 2030, não temos um projeto federal para a indústria que realmente impulsione o setor e faça com que todos ganhem, incluindo os clientes.
Precisamos que os impostos fiquem mais baixos, que as margens sejam suficientes para a toda a cadeia envolvida (fabricantes, parceiros, fornecedores, concessionários etc.) e que nenhum trabalhador perca os seus direitos.
É preciso também renovar a frota nacional, tendo veículos mais modernos, seguros, eficientes e menos poluentes.
União
Só chegaremos lá se tivermos um plano estratégico das montadoras (Anfavea) associado a um plano inteligente do governo federal. Precisamos unir forças para que todos saiam ganhando.
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