domingo, 23 de agosto de 2020

Carro de uma marca com motor de outra? Sim: veja 10 casos no Brasil

Quando você compra determinado carro, o motor dele foi desenvolvido e fabricado pela mesma marca, certo? Bem, nem sempre. Casos em que duas empresas distintas promovem grandes compartilhamentos mecânicos não são incomuns.

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Os exemplos são tantos que renderam um listão: enumeramos 10 situações em que isso aconteceu. Embora tal tipo de compartilhamento aconteça, por variados motivos, no mundo todo, o texto prioriza os casos que envolvem veículos nacionais.

O foco está em marcas que, aparentemente, nada têm em comum. Por isso, fabricantes que pertencem a um mesmo grupo industrial, como Volkswagen e Audi, Toyota e Lexus, Hyundai e Kia, entre outros, não foram citados. Porém, empresas que mantêm parcerias ou alianças, mas sem domínio de uma sobre a outra, como Renault e Nissan, foram lembradas. Confira!

Carro de uma marca com motor de outra: conheça 10 casos

1. Fiat com motor Chevrolet

fiat stilo 1.8 flex vermelho de frente
Stilo foi o primeiro carro da Fiat no Brasil a utilizar o motor 1.8 de origem GM

No Brasil, um dos dos casos mais famosos de utilização do motor de uma marca por outra envolve Fiat e GM. A partir do ano 2000, as duas fabricantes iniciaram um acordo, que resultou, na Europa, até no compartilhamento de algumas plataformas. Por aqui, essa parceria fez com que o propulsor Chevrolet Família I fosse parar veículos da marca italiana.

O primeiro carro da Fiat com motor GM foi o Stilo, lançado em 2002. No ano seguinte, chegou à linha Palio e ao Doblò. Posteriormente, ele também foi aplicado ao Punto e ao Idea. Apesar de a parceria ter sido desfeita já em 2005, o 1. Família I continuou movendo produtos Fiat nacionais até 2010. Esse propulsor ainda é fabricado e, hoje, equipa o Chevrolet Spin.

2. Ford com motor Volkswagen

escort 1 8 xr3 traseira
Escort foi um dos veículos da Ford a utilizar a linha de motores AP, da Volkswagen

Em 1987, foi criada aquela que, então, era a maior associação de fabricantes de veículos do continente: a Auto Latina. Era uma associação entre Volkswagen e Ford, para compartilhar plataformas e motores. Assim, até 1996, quando a união foi desfeita, vários veículos de uma marca receberam mecânica da outra, e vice-versa.

Diversos veículos da Ford foram equipados com propulsores Volkswagen nesse período. Os primeiros foram os das linhas Escort e Del Rey, que em 1989 ganharam o motor AP 1.8. Outras variações da gama AP, com cilindrada menor (1.6) e maior (2.0) também foram utilizadas nos anos seguintes.

3. Volkswagen com motor Ford

volkswagen gol 1000 quadrado frente
Inicialmente, o Gol 1000 tinha mecânica Ford

Naturalmente, em decorrência da Auto Latina, também foram utilizados motores Ford em carros Volkswagen. Gol, Voyage, Saveiro e Parati foram equipados com a unidade 1.6 conhecida como CHT durante alguns anos.

Talvez a aplicação mais lembrada do motor CHT em um carro da Volkswagen tenha sido na primeira safra do Gol 1.000. O hatch de primeira geração ganhou uma versão com cilindrada reduzida para 1.0, também utilizada pelo Escort Hobby. O mais curioso é que, originalmente, esse propulsor não foi criado pela Ford e sim pela Renault, como explicado a seguir.

4. Ford com motor Renault

ford corcel GT amarelo de frente
Família de motores conhecida como CHT tem origem Renault

Algumas pessoas podem ficar surpresas, mas um dos motores mais utilizados pela Ford no Brasil tem origem Renault. Na verdade, tudo começou em 1967 quando a empresa adquiriu a extinta Willys-Overland, que, por sua vez, fabricava sob licença projetos da marca francesa no Brasil.

A Willys Overland estava desenvolvendo um produto próprio com base no Renault R12: a carroceria era distinta, mas mecânica e plataforma eram as mesmas. O projeto estava em fase final e acabou sendo mantido pela Ford, que o lançou em 1968. Nascia então o Corcel, equipado com uma unidade 1.3 de origem francesa.

O motor Renault teve a cilindrada ampliada pela Ford ao longo dos anos seguintes para 1.4 e, por fim, chegou a 1.6. Em 1983, teve câmaras de combustão e dutos de admissão aprimorados, passando a se chamar CHT (sigla de Compound High Turbulence), nome pelo qual é mais lembrado. Na linha Ford, equipou Corcel, Belina, Del Rey, Pampa, Escort e Verona.

5. Renault com motor Nissan

renault sandero gt line azul em movimento em rua brasileira
Propulsor 1.6 SCe que equipa o Sandero e vários outros produtos da Renault é, na verdade, Nissan

Integrantes de uma aliança global que, em 2016, passou a incluir também a Mitsubishi, Renault e Nissan compartilham os mais variados tipos de tecnologias. Motores, claro, também estão no acordo: atualmente, a maioria dos automóveis que a marca francesa comercializa no Brasil têm mecânica proveniente da parceira japonesa.

A unidade 1.6 de quatro cilindros e 16 válvulas que a Renault batizou de SCe é, na verdade, a mesma unidade que, na linha Nissan, é conhecida pelo código HR16. Ele equipa, de um lado, Sandero, Logan, Captur, Duster e Oroch, e do outro, Kicks, Versa e March. O extinto Fluence, que era argentino, também utilizou um 2.0 similar ao do Sentra.

6. Nissan com motor Renault

nissan livina serie especial night and day prata
Versões 1.6 do monovolume Livina tinham mecânica Renault

Não surpreende que o caminho contrário também tenha sido trilhado pelas integrantes da aliança: no passado, também já existiram veículos Nissan com mecânica Renault. Um deles foi o March, que entre 2011 e 2015 utilizou um 1.0 de quatro cilindros e 16V originário da marca francesa.

Porém, o primeiro carro da Nissan a utilizar motor Renault no Brasil foi o Livina. O monovolume tinha duas opções de motorização: um 1.8 16V, que era de outra gama, própria do fabricante, e um 1.6 16V, esse sim “emprestado” da parceira. Vale destacar que essa unidade nada tem a ver com o 1.6 16V utilizado pelas duas empresas atualmente.

7. Peugeot com motor Renault

peugeot 206 vermelho frente
O Peugeot 206 nacional era equipado com uma unidade 1.0 fornecida pela Renault

O ano era 2001: a Peugeot lançava a linha 206 no Brasil. Na época, quase 70% dos automóveis vendidos no país tinham propulsor 1.0, de modo que era impensável oferecer um hatch compacto sem essa opção. O caso é que não havia uma unidade com essa cilindrada disponível de imediato: no exterior, o menor motor adotado pelo modelo era 1.1.

Recém-instalada no país e sem tempo de nacionalizar e reduzir a cilindrada do motor 1.1 para seu carro compacto, a Peugeot acabou recorrendo à Renault, que aceitou vender o próprio powertrain 1.0 16V para a concorrente. O contrato de fornecimento foi mantido até 2004.

8. Peugeot e Citroën com motor BMW

novo suv citroen c4 cactus azul em movimento
Motor 1.6 turbo do Grupo PSA foi desenvolvido em conjunto com a BMW

Esse não é exatamente o caso de dizer que um fabricante utilizou o motor do outro. É que, na verdade, os grupos BMW e PSA desenvolveram essa linha de propulsores de maneira conjunta. Tal unidade foi batizada de Prince teve, em âmbito global, variações 1.4 e 1.6: a de maior capacidade, por sua vez, foi produzida com aspiração natural e com turboalimentação.

Os motores da linha Prince já foram utilizados em produtos das marcas Mini e BMW. Porém, atualmente, ele é mantido em veículos da francesa PSA. Entre os veículos já equipados com ele hoje, estão Peugeot 2008, 3008 e 5008 e Citroën C4 Cactus e C4 Lounge.

9. Fiat-Chrysler com motor BMW

fiat argo hgt azul de frente
Motores E-torQ, da Fiat, são uma evolução do Tritec, que tem raízes na BMW

Quando se associou ao grupo PSA para desenvolver os motores Prince, a BMW pretendia criar um sucessor para a linha Tritec. Esta, por sua vez, era resultado de um acordo com a Chrysler e com a Rover: as três investiram juntas no projeto. O caso é que, em 2008, tudo foi parar nas mãos de uma empresa que, inicialmente, nada tinha a ver com essa história: a Fiat.

Àquela altura, a Rover já havia sido completamente incorporada pela BMW, mas desavenças com a Chrysler puseram fim à joint venture. Em 2007, tanto os projetos quanto a fábrica foram colocados à venda. Por sua vez, a Fiat havia rompido a parceria com a GM e precisava de motores de média cilindrada: tudo veio a calhar.

A Fiat adquiriu a fábrica e os projetos dos propulsores 1.4, 1.6 e 1.8 da Tritec: o terceiro ainda estava em fase final de desenvolvimento. Rebatizado de E.torQ, ele existe hoje justamente na versão de maior cilindrada, sob o capô de Argo, Cronos, Toro e Doblò. Com o advento da FCA, por coincidência, esse motor retornou a um carro Chrysler: o Jeep Renegade.

10. Fiat com motor Chrysler-Mitsubishi-Hyundai

fiat toro freedom flex prata de frente
Motor criado pela aliança entre Chrysler, Mitsubishi e Hyundai foi parar na Fiat Toro

Eis outro caso de fabricantes distintas que se uniram para desenvolver uma linha de motores. Então, não é exatamente o caso de dizer que Chrysler, Mitsubishi e Hyundai utilizam propulsores umas das outras, e sim que as três têm praticamente o mesmo conjunto. A unidade tem quatro cilindros, 16 válvulas e cilindradas que variam de 1.8 até 2.4.

No início dos anos 2000, formou-se a chamada Aliança Global de Motores. A ideia era conceber e fabricar os propulsores de maneira conjunta, mas cada empresa poderia fazer adequações no projeto básico. A Chrysler chamou seu produto de Tigershark; a Mitsubishi, de 4B1; e a Hyundai, de Theta.

Atualmente, cada fabricante produz os propulsores distintamente, mas com base no mesmo projeto. Unidades 2.0 dessa família equipam, hoje, Jeep Compass e Mitsubishi ASX e Outlander Sport. Já a Hyundai utiliza uma versão turboalimentada no Tucson. Quem entrou por acaso foi a Fiat, após a união com a Chrysler: uma variante 2.4 da linha chegou a equipar a picape Toro.

Fotos: Divulgação

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