sábado, 22 de agosto de 2020

Ford Territory terá dificuldade no nosso mercado por ser fabricado na China?

Estava pesquisando na semana passada sobre câmbios automáticos, para uma matéria sobre os prazos de troca de seus fluidos. Numa das conversas, soube que a fábrica terceiriza seus câmbios automáticos (alias, quase todas o fazem) e que a caixa vem pronta para ser instalada na linha de montagem. Com o fluido e até lacrada.

Como se trata da maior fornecedora deste equipamento do mundo (a japonesa Aisin), óbvio que todas as fábricas de automóveis a recebem deste mesmo jeito e, nem controle de qualidade é feito antes de chegar à linha. Talvez uma ou outra unidade, por amostragem. E olhe lá..

É o que se chama de “Qualidade Assegurada”: a fornecedora é certificada, mantem rígidos padrões internacionais de qualidade e talvez receba uma visita esporádica de algum engenheiro do cliente.

Em compensação, quando a vaca vai para o brejo, é um caos gigantesco, caso da maior fabricante mundial de airbags, a japonesa Takata. Há uns 25 anos, algum “gênio” de sua engenharia sugeriu substituir o gás utilizado para expandir a bolsa inflável por outro mais barato e com maior poder de explosão: nitrato de amônia.

Ele estava correto: era realmente de uma enorme eficiência, e ainda ampliada depois que absorvia alguma umidade. Tanto que, além de inflar a bolsa, explodia também o próprio detonador e lançava estilhaços de aço a 300 km/h. Feriu centenas, matou dezenas, provocou recall que envolveu mais de 100 milhões de automóveis e faliu a Takata. Aliás, foi exatamente o nitrato de amônia que destruiu o porto do Líbano há alguns dias.

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Terceirização

Mas a terceirização é caminho sem volta. Grandes fornecedoras de peças se transformaram em “sistemistas”. Não fornecem somente os reloginhos do painel, mas todo ele, com porta-luvas, comandos, iluminação, frisos, revestimento, pronto para a linha de montagem. A fábrica não recebe mais a roda de um e pneu de outro, mas a dupla montada… e calibrada.

Linha de montagem de montadora

Não é somente a indústria automobilística que terceiriza componentes, até por uma questão de custo: especialista num produto oferece melhor qualidade e menor preço. O caso da Nike é bem emblemático: sabe quantas fábricas ela tem no mundo? Nenhuma!

A gigante de roupas esportivas tem equipes especialistas nos mercados de consumo, seus volumes de demanda e tendências; na pesquisa e desenvolvimento de materiais, processos e novos produtos; em avaliar e terceirizar empresas para produzir seus modelos, no controle de qualidade, nos contratos internacionais e locais com importadores e atacadistas. E também na divulgação, marketing, publicidade e promoção da marca. Mas não fabrica nada…

Também as fábricas de celulares. Alguém imagina que a Apple produza algum de seus aparelhos? Ela terceiriza tudo para o Taiwan, China, Hong Kong e outros asiáticos com mão de obra especializada, de qualidade e baixo custo.

No caso dos automóveis, existem gigantes mundiais como a Bosch, TRW, ZF, NGK, Valeo, Marelli, Phillips e outras presentes nas principais linhas de montagem. O equipamento elétrico de qualquer carro, seja norte-americano, brasileiro, indiano, europeu, ou asiático, será provavelmente da Bosch, Marelli ou Lucas.

Confiança

A indústria automobilística chinesa, por exemplo, apesar de recente, teve uma rápida evolução de qualidade. Primeiro, porque o governo chinês, mais esperto que o nosso, obrigou as multinacionais interessadas em produzir localmente a se associar a algum grupo chinês. Ou seja, know-how gratuito.

Além disso, encontrou um mercado globalizado com possibilidade de contar com os melhores componentes do mundo. Ou seja, potencial de qualidade comparável com a de qualquer outro país.

Não foi à toa que Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford Brasil, durante o lançamento do Territory – produzido na China – foi perguntado por um jornalista se não haveria restrição do consumidor ao veículo por sua procedência chinesa. Golfarb respondeu com outra pergunta: alguém deixaria de comprar um celular da Apple por ter sido fabricado no Taiwan ou confia na marca que o assina?

Confira nossa avaliação completa do Territory:

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