Dono do carro leva-o à oficina especializada e pede a troca do óleo do motor. Quem o atende, sugere: “Vamos prolongar a vida do motor com o Militec?” E explica que o produto, embora colocado no óleo, não é um aditivo nem interfere nas propriedades físico-químicas do óleo lubrificante, mas somente pega uma “carona” com ele para chegar nas partes móveis desgastadas.
O fabricante (norte-americano) declara que o Militec é um condicionador de partes metálicas. E que, além de motores, conserva e recupera também câmbios, ar condicionado, compressores, máquina hidráulicas, etc.
Mentiras
Quem entra na internet encontra dezenas de elogios ao produto. Mas, se pesquisar mais atentamente começa a descobrir mentiras. A empresa que o fabrica afirma que o Militec foi testado – e aprovado – no final da década de 80 pela marinha norte-americana. Mas, obviamente omite que, em 1994, numa nova bateria de testes realizada pelo mesmo órgão, foi reprovado em 9 dos 11 testes.
E, por quê reprovado? Por conter cloro. Componente químico que gera cloreto ácido, que pode oxidar rolamentos e outros componentes do motor.
A Militec é criativa, faz variações sobre o tema e não economiza loas a si mesma. Em outro texto, o produto não foi apenas testado, mas desenvolvido pela própria marinha dos EUA na mesma década de 80.
Na verdade, quem o desenvolveu foi Brad Giordani, um militar que criou a Giordani Enterprises. Que depois virou Militec, uma nome mais sonoro e “sugestivo”: E o aditivo é Militec-1: soa como tecnologia, faz alusão a militar e o número “1”, de primeiro. (Bom de marketing, o tal do Giordani…).
Miltec foi reprovado em testes
Além dos testes que o reprovaram nos EUA, também a ANP (Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis) deu bomba no Militec. Um laudo “sigiloso” emitido pela agência e publicado pelo site da revista “Quatro Rodas” revela que o produto omite a presença de cloro na composição química registrada no rótulo do frasco.
Sua subsidiária brasileira foi multada pela agência governamental que faz também a mesma objeção da marinha norte-americana ao produto.
Veja um dos trechos do extenso laudo emitido pela ANP que condena o Militec-1:
A composição está em desacordo com a declarada pelo produtor. Destaca-se, ainda, que a presença de cloro pode levar à formação de cloretos ácidos, mesmo a baixas temperaturas (120°C), que podem ocasionar a elevação do índice de acidez do produto, acarretando em problemas de corrosão dos motores, diminuindo sua vida útil.”
Testes ‘da internet’ têm validade?
Alguns motoristas prestam depoimentos favoráveis ao produto, mas não realizaram testes científicos em dinamômetros nem em prazos mais longos. O Militec pode até apresentar resultados favoráveis a curto prazo, mas seu uso continuado pode danificar o motor devido ao cloreto ácido.
Dono de uma prestigiada rede de oficinas mecânicas com forte presença na internet, bem conceituada pela qualidade dos serviços prestados, realizou seu próprio teste com o Militec: tirou todo o óleo do cárter de um automóvel Honda e rodou quase 20 km sem aparentemente nenhum dano ao motor. Porém, é mais que suspeito: vai criticar um produto que ele próprio vende em sua oficina?
Que validade tem esse teste? Engenheiro chefe da área técnica da Petronas (famosa fábrica de lubrificantes que patrocina as Mercedes de Fórmula 1), consultado a respeito do motor funcionar sem óleo, não se impressionou: afirmou que, vários deles – de boa qualidade – permitem que o carro ainda rode alguns quilômetros só com a película residual do lubrificante nas peças móveis.
A propósito, tem um teste muitas vezes mais rigoroso: veja o vídeo de um inglês “doidão” (clique aqui) que tira o óleo do cárter e todo o líquido do sistema de arrefecimento de três carros sucateados na Inglaterra. E ainda coloca Coca-Cola em seus reservatórios. Os três motores são submetidos a aceleração máxima e o do Honda resiste cerca de 7 minutos!
Aditivo no óleo representa perigo!
Apesar de existir no mercado uma quantidade de aditivos para o óleo do motor, não se recomenda usar nenhum deles. Primeiro, porque o sugerido pelo manual já vem com a aditivação necessária, conforme desenvolvimento conjunto entre engenheiros da fábrica do carro e da que produz o lubrificante.
O pior é que nem sempre o aditivo extra representa apenas um custo desnecessário, pois pode não combinar com a aditivação do óleo original. E resultar numa reação química de consequências imprevisíveis para a integridade do motor.
O fabricante do Militec-1 declara não se tratar de um aditivo e não alterar as características químicas e de viscosidade do óleo. Explica que sua função é aderir às superfícies desgastadas de partes móveis, reduzindo folgas e devolvendo a eficiência original do motor.
Ainda que essas funções fossem comprovadas, o que a Marinha dos EUA e a ANP afirmam é que a presença do cloro pode prejudicar o motor. Ou seja, experiências a curto prazo podem apresentar resultados favoráveis, mas, no uso continuado…
Censura!
Enquanto redigia esta matéria, a Militec conseguiu uma liminar para que a revista Quatro Rodas retirasse de seu site a reportagem informando que a ANP multou a empresa e condenou seu aditivo. A revista não se referiu ao produto ter sido condenado também pela Marinha norte-americana, somente pela agência brasileira.
Fica uma pergunta no ar: se uma empresa tem seu produto criticado pela imprensa e certeza de sua qualidade, deveria exigir uma publicação esclarecendo os fatos. Existe uma lei que a protege. Só recorre à violência da censura quem não tem argumento embasado cientificamente para se defender. Pois o laudo que tinha a favor de seu produto foi derrubado pelos testes da ANP. (B.F.)
O post Militec: testado e reprovado nos EUA e no Brasil apareceu primeiro em AutoPapo.
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