Nestes mais de 50 anos de jornalismo no setor, perdi a conta de quantas dezenas de salões de automóveis eu visitei. No Brasil, EUA, Europa e Ásia. Estou em Tóquio e o problema não são as 30 horas de viagem do Brasil ao Japão, mas tudo isso para se deparar com um salão decepcionante. Não estou me referindo à falta de lançamentos que interessam ao nosso mercado, mas qualquer estreia, doméstica ou internacional.
Para começo de conversa, o número de ausências dá de dez a zero nas presenças: não bateram ponto em Tóquio as norte-americanas GM, Ford e Chrysler. Francesas: nem Peugeot, nem Citröen ou DS. Só a Renault, de forma pífia, para honrar a aliança com a Nissan.
Das alemãs, nem Porsche, Volkswagen ou BMW. Nenhuma italiana (Fiat, Ferrari, Maserati, Lamborghini, Alfa Romeo) nem coreana (Hyundai ou Kia). Volvo, Rolls Royce, Jaguar e Land Rover também não deram as caras. Nem mesmo as chinesas.
Em resumo, além das japonesas, só a Mercedes, mas sem novidades. Não bastasse, como meio pavilhão da exposição está em obras por causa das Olimpíadas de 2020, o Salão foi dividido em dois prédios, distantes quilômetros um do outro. Conectáveis por ônibus depois de se enfrentar fila gigantesca sob a intempérie do momento. No meu caso, um sol de rachar.
O esvaziamento dos salões de automóveis não é um problema enfrentado apenas por Tóquio. Ele apenas bateu com maior intensidade no japonês, mas já vem se manifestando em outros países, mesmo nos mais poderosos como Frankfurt ou Paris.
Na verdade, as fábricas estão colocando na ponta do lápis os custos envolvidos para marcar presença num salão e o retorno efetivo, seja em vendas como na promoção da marca. O estande num salão internacional custa milhões de dólares entre a locação do espaço, a montagem e o operacional.
Fábricas de modelos mais sofisticados e que atingem público mais selecionado foram as primeiras a fazer as contas. Quanto custa para a Rolls-Royce ou Ferrari um espaço em Frankfurt ou Genebra? Das centenas de milhares de pessoas que se amontoam defronte aos seus estandes, quantos são seus potenciais clientes de fato, e quantos os apaixonados desprovidos de saldo bancário até para comprar um Fiat Uno?
Com a mesma verba destinada para um salão, ou menos, uma fábrica de automóveis sofisticados promove dezenas de eventos que atingem exatamente seu público-alvo.
O empresário Sérgio Habib, quando era importador da Citröen no Brasil, decidiu não participar do nosso mais importante salão, o de São Paulo. Mas colocou uma equipe na saída do evento realizando uma pesquisa entre os visitantes, perguntando qual a opinião dos entrevistados sobre o estande da marca, a disposição dos carros, o uniforme das modelos, o nível de informações, etc.
E a grande maioria respondeu às questões como se a Citröen tivesse realmente participado do evento. Um óbvio sinal de que o público dificilmente percebe ou memoriza cada marca entre as dezenas presentes no salão.
Hoje, quanto mais poderosas as redes sociais para a divulgação de produtos e serviços, mais questionáveis os métodos tradicionais de comunicação e marketing. Um exemplo inquestionável é o crescente desinteresse das fábricas de automóveis pelos salões.
As exceções são os eventos voltados para a eletrônica, conectividade e infotainement, que ganham participação cada vez mais forte das fábricas de automóveis. Como não é o caso de Tóquio, o fracasso de seu salão apenas confirma essa tendência mundial.
Foto Shutterstock
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