sábado, 15 de agosto de 2020

‘Empurroterapia’: tem concessionária que não perdoa…

A lenga-lenga é sempre a mesma: o dono leva o carro para a oficina da concessionária e procura o “consultor técnico” (nova denominação de recepcionista) para a revisão obrigatória.

O consultor confere a papelada e passa o orçamento: “Vai ficar em R$ 950”. O dono protesta e aponta para um cartaz bem ali na parede informando que aquela revisão é tabelada em R$ 350. “Por que quase o triplo?”, pergunta.

Hora das “explicações” na ponta da língua: o valor anunciado é da revisão standard, sem outros serviços importantes a serem também realizados. Os mais frequentes:

Troca do rolamento da correia dentada

Na quilometragem recomendada no manual, só consta a troca da correia, preventivamente. Em alguns raros casos (Renault, por exemplo) também o rolamento. Argumento do consultor: já que o conjunto foi desmontado, vamos trocar também o tensor/rolamento, para evitar abrir tudo de novo daqui a dois meses… E o rolamento – ainda em ótimas condições – vai para o lixo (será?).

Limpeza da sonda lambda

Situada no escapamento, informa para a central eletrônica – do carro flex – qual o combustível no tanque, se gasolina ou etanol. Ou uma mistura. Só que inexiste limpeza de sonda lambda.

Descarbonização do motor

Apesar de ter sido sempre abastecido com etanol (baixíssimo teor de carbono) e o motor estar limpo, o consultor “percebe” (sabe-se lá como) a necessidade deste serviço.

Balanceamento

O alinhamento é realmente recomendado em determinada quilometragem, mas nada a ver com balanceamento de rodas, exceto se o motorista percebe uma vibração no volante.

balanceamento roda traseira shutterstock
Fez o alinhamento, precisa fazer o balancamento? Não necessariamente (Foto: Shutterstock)

Lubrificação

Nada mais se lubrifica no automóvel moderno. Nem mesmo a suspensão, que exigia este serviço no passado. Talvez as dobradiças das portas, se estiverem rangendo. Ou coisa semelhante. Mas, recentemente, tentativa de extorsão sofrida pela dona de um Honda levado para a revisão foi a insistência de se lubrificar  “as porcas das rodas”. Pode? Aliás, além do óleo para lubrificá-las, o consultor deveria usar também o de peroba para lustrar a cara de pau…

Na revisão, prevista a troca de óleo do motor. Entra então em cena a empurroterapia: um aditivo para “prolongar a vida do motor”. Pode ser até perigoso, pois o óleo já vem de fábrica com os aditivos necessários. Ora, se os extras não combinarem quimicamente com os originais, o motor pode até ser danificado.

Limpeza do tanque

O carro pode rodar centenas de milhares de quilômetros e dezenas de anos sem exigir manutenção do tanque de combustível. Exceto na quase impossível situação de ter ficado estacionado por muitos anos com o tanque vazio.

Trocar discos

A oficina observa a necessidade de trocar as pastilhas de freio, que é normal. Mas – atenção! – vem também a recomendação da desnecessária troca dos discos, que não é automática, como alegam: só se estiverem danificados, riscados, empenados e impossível retificá-los por já terem atingido a espessura mínima especificada.

Limpeza do sistema de injeção

Só se limpa o que está sujo. E que se percebe pelo funcionamento irregular do motor. Mas o consultor já sapeca na ordem de serviço “limpeza de bicos (ou válvulas) injetores’, ou do TBI (corpo da borboleta) sem que o dono tenha reclamado nenhum problema de marcha lenta, tossir, engasgar, perder desempenho, aumentar consumo…

Falo mais sobre esse assunto neste vídeo:

Os consultores das concessionárias que exercem a empurroterapia se armam de uma inexplicável sabedoria para sustentar seus insustentáveis argumentos. Contam com a ignorância técnica do freguês e a inexorável – e falsa – alegação de que, se o serviço não for autorizado, o carro perde a garantia. Poucos sabem que o “consultor” tem função dupla: a técnica e a comercial, pois é comissionado para impingir os extras aos fregueses.

Tanto a empurroterapia se disseminou que as fábricas, preocupadas, divulgam os preços das revisões obrigatórias. Inutilmente, pois não conseguem conter a “criatividade” de algumas concessionárias sedentas por maior faturamento, ainda que ignorando os mais elementares princípios de honestidade.

O post ‘Empurroterapia’: tem concessionária que não perdoa… apareceu primeiro em AutoPapo.


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