domingo, 3 de novembro de 2019

De Ford Del Rey a Fiesta, fábrica de São Bernardo fez ícones

Na última quarta-feira (30), a Ford desativou sua fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A planta operou por cerca de 65 anos, tendo sido fundada pela Willys Overland em torno de 1954, começando com operações de montagem.

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Fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP) (Foto Ford | Divulgação)

Futuramente, ali seria feita a efetiva fabricação de modelos brasileiros, ainda nas mãos da americana. Em 1967, a Ford comprou a marca conterrânea e assumiu as operações do local. Em todos esses anos, dali saíram modelos icônicos que marcaram o mercado brasileiro. Nesta lista, relembramos 10 desses carros, em ordem cronológica. Confira:

Jeep Willys, o primeiro dos primeiros

Antes de a Ford comprar a fábrica de São Bernardo do Campo (SBC), e antes de a Jeep se tornar uma marca, a Willys Overland era quem comandava o mercado dos carros fora de estrada, nos Estados Unidos e no Brasil. O Jeep Universal começou a ser montado na planta em 1954, sendo o primogênito do local.

Este “jipe” deixou sua marca no Brasil e em toda a categoria, mundialmente. Até mesmo o Jeep Wrangler é um descendente direto dele, que teve passado militar, sendo utilizado pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Ele também foi um dos primeiros carros realmente nacionais, ou seja, a ter a produção inteiramente brasileira, e não apenas a montagem. O Jeep Willys continuou sendo fabricado depois que a Ford comprou a fábrica de SBC, e só deixou de ser produzido em 1982.

Rural Willys, o primeiro SUV do Brasil

Da mesma forma que o Jeep Universal, a Rural Willys também foi pioneira no Brasil por ser um dos primeiros veículos utilitários vendidos por aqui, uma espécie de “pré-SUV.” A perua começou a ser montada em São Bernardo em 1956, dentro dos moldes americanos, com pintura “saia e blusa”, em dois tons, como reconta o Best Cars.

O motor era um 2.6 a gasolina de seis cilindros e 90 cv de potência bruta, com câmbio de três marchas e tração integral. Três anos depois, começou a ser fabricado um motor nacional, em Taubaté (SP).

Já em 1960, a Rural Willys se tornou totalmente nacionalizada, e a dianteira ganhou um desenho novo.

Em 1967, depois de a Ford comprar a Willys Overland e também a fábrica de São Bernardo, ela também continuou sendo produzida. Em 1972, a veterana passou a se chamar Ford Rural e, em 1977, ela deixou, finalmente, o mercado, tendo alcançado quase três décadas de vida.

Aero-Willys, o Jeep de gravata

Em 1960, depois de quatro anos de Willys no Brasil, a marca americana apresentava o sedã de quatro portas Aero-Willys no país. O modelo era baseado no Aero Wing dos Estados Unidos, mas tinha grade dianteira, lanternas e frisos diferentes, também de acordo com o Best Cars.

Para os padrões da época, era um carro diferenciado, se destacando pelas linhas rebuscadas e grande área envidraçada. Ele também era grande, e comportava seis ocupantes. O motor era o 2.6 de 90 cv brutos, mesmo que aparecia em outros modelos da Willys.

Em 1967, foi lançada a versão Itamaraty, que trazia mais luxo e motor mais potente. Pouco depois, também chegou ao mercado a única limousine jamais fabricada no Brasil, o Aero-Willys Itamaraty Executivo.

O modelo deixou de ser fabricado em 1971, quando a Willys já estava nas mãos da Ford e esta última lançava no Brasil o Galaxie, modelo com a mesma proposta.

Ford Galaxie, o topo da gama

Entre os carros de sua época na gama da Ford, o Galaxie se destacava: não apenas pelo preço, mas também pela carroceria gigante. Entre todos os carros jamais produzidos no Brasil, foi um dos maiores, sendo, definitivamente, o maior entre os sedãs.

A carroceria do Ford Galaxie tinha 5,3 metros de comprimento e 2 m de largura, e podia comportar até seis passageiros. Ele começou a ser fabricado no país em 1967, com motor V8 de 166 cv.

Em 1969, ganhou a versão LTD, se tornando o primeiro carro nacional com ar-condicionado, de acordo com a fabricante. Também foi o segundo a ter câmbio automático. Em 1971, foi a vez da configuração LTD Landau, que contava, ainda, com madeira de jacarandá nos painéis e portas, e veludo inglês e casimira nos revestimentos.

O luxo era tanto que a versão chegou a ser parte da frota da Presidência e até Papamóvel, usado por João Paulo II em sua visita ao Brasil, em 1980. Eventualmente, o Ford Galaxie Landau se tornou o último representante do modelo e, em 1983, ele deixou de ser produzido, tendo emplacado 77.850 unidades no Brasil.

Ford Corcel também foi dos primeiros da marca em SBC

O Ford Corcel chegou ao país em 1968 como uma herança da Renault, e também esteve entre os primeiros modelos produzidos na fábrica de São Bernardo do Campo. Ele era derivado do Renault R12, cuja Willys desenvolvia, no Brasil, em parceria com a francesa. Quando a americana a adquiriu, manteve praticamente a mesma mecânica do modelo e mudou a carroceria completamente.

Muitos apontam, inclusive, que ele ficou mais bonito que o francês. Entre as alterações mecânicas, motor, câmbio e suspensão foram adaptados para o país. Então, o projeto foi vendido como Ford Corcel, nome inspirado no do Ford Mustang, por ser de um cavalo também.

Sua missão era ser o “carro de volume da marca”, como conta a própria, e foi cumprida. Foram 4.500 vendas apenas no primeiro mês, e 1,4 milhão de unidades do Ford Corcel fabricadas ao longo dos seus 18 anos de vida, terminando em 1986.

Ele também foi o primeiro veículo do Brasil equipado com radiador selado, segundo a Ford, dispensando a reposição de água. Em 1977, a Ford lançou sua segunda geração, o Corcel II, quando deixou de oferecer a configuração com quatro portas. Assim, continuou a oferecer a perua Belina, e também criou a versão picape, Pampa.

Ford Maverick, um cult que durou apenas 7 anos

Entre os carros desta lista, o Ford Maverick é um dos que ficou menos tempo no mercado brasileiro. Lançado em 1969 nos Estados Unidos, o clássico chegou ao Brasil em 1973 e, em 1980, já deixava de ser vendido.

Sua proposta por aqui era de ser uma opção intermediária na gama da americana, ficando acima do Ford Corcel e abaixo do Ford Galaxie Landau. O modelo fez sua estreia com um motor 3.0 de seis cilindros que entregava 112 cv, mesmo que havia sido utilizado no Aero-Willys.

Contudo, ele só mostrou ao que vinha quando recebeu a versão esportiva. O Ford Maverick GT era equipado com propulsor 5.0 V8 de 197 cv. O modelo também se tornou comum entre preparadores e em competições.

Mais tarde, ele também receberia um motor 2.3 de quatro cilindros com comando de válvulas no cabeçote, que oferecia 99 cv.

Apesar de a versão esportiva ter uma horda de seguidores atualmente, o lançamento do Ford Maverick foi um dos maiores fracassos da indústria automobilística brasileira. Principalmente porque nosso mercado foi muito mais receptivos aos modelos europeus.

Em 1979, deixou de ser fabricado, tendo emplacado 108.106 unidades.

Ford Del Rey – ou “Corsário”, o Corcel de otário

Um dos derivados do Ford Corcel fez tanto sucesso que merece uma menção nesta lista separadamente. Ele foi o Ford Del Rey, configuração de sedã médio lançada em 1981 para substituir o Ford Galaxie.

Ele foi feito sobre a plataforma do Corcel II, e contava com motor 1.6 de 69 cavalos, também herdado do irmão mais velho. O destaque do modelo estava no acabamento requintado, que o tornou um artigo de luxo aos olhos de muitos brasileiros.

O Ford Del Rey foi um dos primeiros veículos do Brasil a ser equipado com vidros elétricos, e também trazia trava de segurança para crianças nas portas traseiras e cintos de segurança retráteis, o que também era considerado novidade na época.

Na cabine, tinha, ainda, um console com luzes de leitura e relógio digital, com iluminação azul, instalado no teto, remetendo ao de aviões. Na versão topo de linha, Ouro, trazia bancos revestidos em veludo, retrovisores com comando interno, rodas de liga leve e faróis de neblina.

Em 1983, o Ford Del Rey ganhou uma opção com câmbio automático. Depois, recebeu motores mais potentes, incluindo um motor AP 1.8 da Volkswagen, em 1989. No total, o modelo ficou 10 anos no mercado e emplacou cerca de 350 mil unidades. No fim, foi substituído por uma adaptação do Volkswagen Santana, o Versailles, em 1992.

Apesar de todo o sucesso, o modelo também rendeu piadas, e era conhecido como “Corsário”, ou Corcel de otário, pois, inicialmente, tinha desempenho inferior ao do Ford Galaxie e, na prática, era um só um Ford Corcel perfumado.

Ford Escort fez sucesso no Brasil

Outro dos modelos icônicos que saíram da fábrica de São Bernardo do Campo foi o Ford Escort. Ele foi lançado no país em 1983 e foi o primeiro carro mundial da marca, segundo a própria. Quando apareceu por aqui, já estava na terceira geração europeia, e era vendido com motores 1.3 e 1.6, a álcool ou gasolina.

Também fez sucesso sua versão esportiva, Ford Escort XR3 (sigla para Experimental Research 3), com faróis auxiliares, aerofólio traseiro, teto solar e rodas de 14 polegadas. O motor era o mesmo 1.6, mas calibrado para oferecer 10 cv de potência extra.

Em 1985, foi lançada a configuração conversível do XR3 e, em 1989, a linha ganhou opção 1.8, que era um motor AP da Volkswagen. Isso foi possível porque as duas fabricantes se uniram em 1987, com a Autolatina e, até 1996, trocaram tecnologias.

Em 1996, o Ford Escort deixou de ser produzido na fábrica de São Bernardo e foi para a Argentina, de onde foi importado para o Brasil até 1993, tendo convivido com a primeira geração do Ford Focus.

Ford Ka, o design ousado dos millennials

Em 1997, chegava ao Brasil um carrinho engraçado que chamava a atenção por um design que era diferente de qualquer outra coisa nas ruas: o Ford Ka. Modelo de entrada da marca, ele inaugurou o estilo “New Edge” desenvolvido pelo “oval azul”.

Ele havia sido lançado um ano antes na Europa e, no interior, seu painel era igualmente diferente e de linhas arredondadas. Contudo, debaixo do capô, tinha motor arcaico em variações 1.0 e 1.3.

Enquanto fazia sucesso no Brasil como um carro acessível e “diferentão”, o Ford Ka europeu ganhava uma versão conversível com design da Pininfarina, o StreetKa. Seu lançamento também ocorreu em um momento marcante da história, próximo à virada do milênio, quando tudo parecia ter a obrigação de parecer moderno e futurista.

Por aqui, ele recebeu diversas outras gerações. Apenas a primeira foi fabricada em São Bernardo e, depois, ele foi transferido para Camaçari (BA), onde continua até hoje. Ele também ganhou a variante sedã que, junto com o hatch, devem ser as únicas do tipo na gama da Ford em um futuro próximo.

Ford Fiesta foi o último ‘filho’ da fábrica

O Ford Fiesta chegou ao Brasil em 1995, importado da Espanha, quando já estava em sua terceira geração. Entre os automóveis, ele foi o último a ser produzido na planta de São Bernardo do Campo.

A morte da dupla de hatch e sedã foi anunciada junto à da fábrica, no dia 19 de fevereiro de 2019. A partir de então, o modelo foi vendido até acabarem os estoques. Até junho, ambas as configurações já haviam desaparecido do site da marca.

Em seus 24 anos de mercado, o Ford Fiesta marcou época. Ele começou a ser fabricado no Brasil em 1996, já na planta do ABC paulista. Depois de um tempo, passou a ser feito em Camaçari (BA), mas, depois, voltou para São Bernardo.

Foram quatro gerações no país, que renderam diversas versões. Entre elas, a Ka Trail, de 2005, foi pioneira entre os hatches aventureiros, com barras de ferro na dianteira e perfumarias para pagar de off-road. Uma das últimas foi a Ka EcoBoost turbo, com motor 1.0 de 125 cavalos.

Relembre as versões inusitadas do Ford Fiesta.

Fotos Ford | Divulgação

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