sábado, 29 de fevereiro de 2020

Alemanha x Brasil: 7×1 no futebol, 10×1 nas mortes de trânsito

As estradas alemãs provam que velocidade tem pouco a ver com volume de acidentes rodoviários. Já cansei de ser ultrapassado nas autobahnen rodando a mais de 200 km/h. E nem por isso ocorrem mais acidentes com mortes na Alemanha que no Brasil: lá são 10 vezes menos. Quatro mil mortos por ano contra 40 mil no Brasil.

Com um agravante: nossas estatísticas só consideram a morte no momento do acidente, número que aumentaria se fossem apuradas as mortes até sete dias depois, como em outros países. E, curiosamente, o volume e a idade das frotas no Brasil e Alemanha são semelhantes, cerca de 45 milhões de automóveis com 9,5 anos de fabricação, em média.

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Velocidade

placa sem limite velocidade
Placa que indica trecho sem limite de velocidade na Alemanha (Foto Shuttertstock)

Qual a velocidade máxima nas estradas germânicas? Nas autobahnen só existem limites em alguns trechos com trevos, marginais, etc. Fora destas limitações é “a gosto do freguês”.

E o limite de 250 km/h? Não foi estabelecido pela legislação, mas por acordo entre as montadoras que, por sinal, exclui os esportivos.

Se o reduzido número de mortes (10 vezes menor que o nosso) não resulta de limite de velocidade, o que explica então esse quadro positivo nas rodovias alemãs?

  1. Segurança dos automóveis, dotados de sofisticados dispositivos eletrônicos, inclusive de comunicação, e rigor na manutenção;
  2. Infraestrutura rodoviária – projeto, qualidade e manutenção do asfalto, drenagem, sinalização, iluminação e assistência;
  3. Educação – Motoristas recebem desde crianças noções básicas de trânsito e civilidade e respeitam a sinalização. Número de multas aplicadas é um décimo do nosso.
  4. Velocidade – Legislação mais racional que a nossa, mais branda em alguns casos, mais rígida em outros. Pequenos excessos de velocidade são penalizados apenas com multas pecuniárias. Excessos maiores resultam em multas de até R$ 7.500, pontos no prontuário e motorista impedido de dirigir de um a três meses.
  5. Álcool – Prevalece também o bom senso: motorista só é punido se flagrado com teor alcoólico superior a 0,25 mg por litro de sangue: R$ 7.500  e carteira apreendida por três meses. Permite, portanto, tomar uma caneca de chope;
  6. Sistema de informações online dos acidentes rodoviários, com acesso às montadoras. Quando uma delas percebe carro de sua marca envolvido, envia seus engenheiros para análise da ocorrência.

Terceiro lugar

Morrem anualmente 17 brasileiros no trânsito por 100 mil habitantes, enquanto na Alemanha a taxa é de 4 por 100 mil. Ou seja, em relação à população, o número de mortes em acidentes na Alemanha é quatro vezes menor que no Brasil.

Nossa taxa de mortalidade (17 mortes por 100 mil pessoas) também é pior que a de países como Índia (11,4), Indonésia (12) e Estados Unidos (12,4), além da  Argentina (12,6).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), morrem cerca de 1,25 milhão de pessoas no mundo em acidentes no trânsito todos os anos. Segundo a mesma OMS, o trânsito brasileiro é o terceiro que mais mata, em uma relação com 175 países – na frente apenas de China e India.

Estradas também matam

Além de motoristas mal preparados e carros sem condições de segurança (até porque não existe a inspeção veicular), as próprias rodovias também contribuem para os acidentes.

Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT), 59,2% das rodovias brasileiras apresentam problemas de sinalização. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) foi condenado recentemente por dois acidentes fatais em rodovias, pela inexistência de placas indicativas e pintura de faixas nas pistas.

Os projetos das nossas estradas são vergonhosos e não levam em consideração regras básicas de segurança rodoviária. Mesmo em algumas (raras) de duas pistas, existem verdadeiras armadilhas contra os motoristas na separação entre elas.

Muretas não são perpendiculares, mas inclinadas, contribuindo para agravar o acidente. Guard-rails não são contínuos. Postes e valas para drenagem de água são armas apontadas contra o carro que derrapa em sua direção.

E ainda aparece um presidente da República a sugerir que se reduza a fiscalização rodoviária e o rigor ao punir infratores…

Bolsonaro está certo ou errado em querer retirar os radares? Veja no vídeo

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