O Zé do Caixão artista e o Zé do Caixão da Volkswagen tinham muita coisa em comum. O único ponto em que não combinavam é que, ao contrário do artista José Mojica Marins, que morreu na quarta-feira, 20, aos 83 anos, após uma longa e produtiva vida, o Zé do Caixão de lata viveu muito pouco. Nasceu em 1968, foi cedo trabalhar “na praça”, como taxista, herdou o apelido que carregaria para sempre e saiu de cena em 1971.
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Foram apenas três anos, mas de muito trabalho e bullying. Tudo começou porque a Volkswagen se negou a dar um nome digno ao sedã, o primeiro com quatro portas da marca no Brasil.
Em sua certidão de nascimento, veio um genérico “VW 1600”, alusão à cilindrada do motor boxer 1.6 refrigerado a ar. Para o povo, que havia tomado nos braços o sério VW Sedã e o rebatizado de Fusca, era só questão de tempo para achar uma denominação mais apropriada.
Alcunha ‘Zé do Caixão’ nasceu por causa das maçanetas
Carros de quatro portas eram raríssimos naquela época. Além disso, quatro portas requerem quatro maçanetas. Alguém notou alguma semelhança entre as maçanetas e alças. Quatro alças. O carro tinha linhas retas, parecia uma caixa. Caixa com alças. Àquela altura, Zé do Caixão já aterrorizava – literalmente – nas telas de cinema. Pronto: nascia o Zé do Caixão da Volkswagen.
Além das formas pouco usuais, sem nenhuma preocupação com a aerodinâmica, o Zé do Caixão chamava atenção também por ser o primeiro VW do mundo com faróis retangulares. Na época, a marca adotava o conjunto redondo.
O motor ficava na traseira. Rendia 50 cv e levava o modelo a cerca de 135 km/h. O câmbio manual tinha quatro marchas.
Se por fora o Zé do Caixão chocava a sociedade, por dentro o sedã tinha o padrão que a Volkswagen aplicaria na década seguinte em modelos como TL e Variant. Ao contrário do Fusca, que tinha painel sem revestimento, o Zé (para os íntimos) recebeu revestimento que imitava jacarandá.
O grande volante de aro fino e dois raios era o padrão, assim com os mostradores: velocímetro no centro, ladeado pelo marcador de gasolina do lado esquerdo e um relógio “falso” do lado direito, só para equilibrar o visual.
Área para bagagem era pequena
Outra característica do carro comum aos modelos da marca era a pouca área para bagagem. O compartimento frontal, embora volumoso por fora, era pequeno por dentro, porque era raso. Além disso, o estepe também ficava ali.
Em 1970, o modelo ainda viu a seleção levantar o tricampeonato no México com seus novos faróis, formados por dois pares circulares.
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No ano seguinte, fechou os olhos para sempre – mas só para a Volkswagen.
No total, apenas 24.475 unidades foram produzidas. Sair de linha tão cedo só complicou o histórico do carro. Afinal, o fim precoce era a confirmação do fracasso, e mais uma mácula no curto histórico do carro.
Tirando um relativo sucesso entre os taxistas, o Zé do Caixão nunca foi muito bem aceito no mercado. Se era oriundo da classe operária, não combinaria com uma garagem da classe média.
Hoje, passada a fase de ostracismo e deboche, o carro tornou-se cult. Mais uma coincidência com o artista que lhe deu o nome.
https://jornaldocarro.estadao.com.br/carros/um-carro-chamado-ze-do-caixao/ visto pela primeira vez em https://jornaldocarro.estadao.com.br
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